terça-feira, 23 de setembro de 2008

A mulher fingida



Paulo Sant'ana

O cronista argumenta por que a mais autêntica e atraente manifestação feminina é o fingimento.

Do ponto de vista do homem, a grande mulher é a fingida. A mulher fingida tem sentimentos muito mais intensos e transbordantes que amulher sincera.
A mulher sincera é sempre a mesma: ela é o que é. Já a mulher fingida é sempre o que o homem quer que ela seja.
Supondo-se que a mulher, assim afirmam os sexólogos, como goleiro no futebol,só atinge o primeiro orgasmo aos 29 anos, a mulher sincera relata, até essa libertação, seu calvário, enquanto a fingida se compora como se, desde as primícias da relação sexual, conseguisse êxtases retumbantes.
A mulher sincera é a que acorda o homem para a dura realidade. A mulher fingida é a que desperta o homem para o reino da fantasia.
A mulher sincera, encarrega-se sempre do pesadelo, a fingida catapulta o homem para o sonho.
A mulher sincera é aquela que se designa para o relatório diário dos tormentos domésticos e a exposição dos problemas tão pronto o homem põe os pés na lar.
A mulher fingida é aquela que, quando o homem chega em casa e pergunta se está tudo bem, responde, ajeitando a camisola: " Agora vai ficar ainda melhor"
A mulher sincera cobra, a mulher fingida promete.
Da mulher sincera o homem só obtém muxoxos rançosos. Nos lábios da mulher fingida sibilam murmúrios de lascívia.
A mulher sincera faz sexo. A mulher fingida realiza uma apresentação.
A mulher fingida tem orgasmo múltiplo. A mulher sincera, cosquinhas.
A mulher sincera dá só vazão a queixa, à recrimação e à condenação. A mulher fingida passa sempre despercebido o deslize do homem.
Para a mulher sincera, o homem, por mais que se esmere em provê-la, é um doador de esmolas. A fingida, por mais avarento que o homem lhe seja, considera-o um exemplo de prodigalidade.
A mais autêntica e atraente manifestação feminina é o fingimento.
A mulher finge que é alta no salto do sapato e que seu rosto é sempre belo pela maquiagem. E seu corpo aromático pelo perfume e bem torneado pelas calças justas. E finge seios opulentos com o silicone.
A mulher sincera vive no médico e no dentista.
A mulher fingida mora na sauna e no salão de beleza.
A mulher sincera é lamurienta e pessimista. A fingisa é afetada, coquete e otimista, profissional do sorriso e das carícias.
A mulher sincera é um personagem, a fingida uma atriz.
Se está tudo bem na relação conjugal, tanto a mulher sincera quanto a mulher fingida se mostram realizadas. Mas a mulher fingida leva a vantagem de também se sentir realizada quando tudo se depara adverso ao casal.
A mulher fingida aprimora a técnica de só se mostrar aborrecida quando está longe do seu homem.
A sincera deixa para revelar o auge da melancolia e da irritação quando seu homem está presente.
De tanta admiração que ela tem pelo homem, as amigas da mulher fingida, sentem-se invejosas dela.
Para as amigas da mulher sincera chega a ser surpreendente que não se separe do marido, tantas são as críticas que ela lhe destina.
Eu amo a sinceridade da mulher fingida.
E acho que é tão chata e exagerada a sinceridade da mulher sincera que ela só pode estar fingindo.




Um comentário:

Anônimo disse...

Bom demais! Gostaria de ser uma mulher fingida, não sei se dá mais tempo, em plena maturidade... rrsrsrsrs... sou de uma geração tão oposta das minhas filhas, sei não... como invejo a mulher fingida... talvez as minhas filhas seja, vou torcer prá isto!