domingo, 10 de fevereiro de 2008

AFINIDADES





Artur da Távola

Afinidade é um dos poucos sentimentos que resistem ao tempo e ao depois.

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos.

E o mais independente também. Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades.

Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido.

Ter afinidade é muito raro. Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.

Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos queimpressionam, comovem ou mobilizam.

É ficar conversando sem trocar palavras, é receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.

Não é sentir nem sentir contra...
Nem sentir para...
Nem sentir por...
Nem sentir pelo...
Afinidade é sentir com.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.É olhar e perceber...

É mais calar do que falar, ou, quando falar, jamais explicar: apenas afirmar.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.

É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades exercidas quanto das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de separação.

Porque tempo e separação nunca existiram, foram apenas oportunidades dadas pela vida.




Um comentário:

Ocenilda disse...

Amiga,

Posso dizer que houve um tempo no passado nao muito distante que revivi essas "Afinidades", infelizmente nao por muito tempo porque o tempo nao para e as pessoas nao sao eternas nessa dimensao em que estamos apenas de passagem. Foram momentos curtos, mas maravilhosos e que valeram por uma vida, pelo resto da minha vida.

Beijos.

Ocenilda