domingo, 17 de fevereiro de 2008

Irretocável




Silvana Duboc

Tenho cabelos claros, pintados,
para esconder os fios brancos.

Não me recordo exatamente em que ano
eles começaram a branquear...

Tenho algumas rugas em volta dos olhos,
mas também não me recordo
quando elas começaram a aparecer.

Tento disfarçá-las, são tantas
novidades no campo da dermatologia,
achei por bem aproveitá-las.

Do corpo, quase não cuido , só recentemente entrei
para uma academia por ordem médica.

Ele me disse que na minha idade preciso de exercícios...
Mas falto mais do que vou, não gosto de fazer ginástica.

Das minhas unhas cuido semanalmente,
penso que elas são um cartão de visita.
Unhas maltratadas causam uma péssima impressão!

De uns dez anos pra cá descobri os cremes
e aí compro um aqui, outro ali e no final nã
uso nenhum, mas compro, só de olhá-los na prateleira
já percebo que as rugas se retraem.

Sou assim, vaidosa, mas não em excesso,
penso que sou na medida certa,
na medida correta para uma mulher.

Enfim, os anos passam e as marcas
que eles deixam em nós, não temos
como conter. Nem pretendo isso!

Acredito que cada marca, que meu corpo carrega,
tem uma linda história.

Às vezes na frente do espelho ao descobrir uma
nova ruguinha fico pensando o que a causou.

Depois reencontro com outra que já está vincada há anos
e me recordo quando ela apareceu.

Poderia enumerar também a história
de cada fio de cabelo branco.

Foram filhos, amores, marido, amigos que colocaram eles ali.

Não quero me desfazer de nenhuma dessas marcas,
apenas amenizá-las, acho que mereço isso.
A vida me deve isso.

Atualmente a parte que merece
mais a minha atenção, é a cabeça.

Tento, todos os dias, colocá-la no lugar,
equilibrá-la, alimentá-la com sonhos e alegrias.

Corpo e mente caminham juntos.
Se um estiver em estado lastimável ,
o outro provavelmente vai se deteriorar.

Não escondo minha idade.
Não adiantaria falar que tenho trinta e cinco
e apresentar um filho de trinta.
Portanto eu confesso:
tenho sessenta e um anos.
Metade deles bem vividos,
a outra metade muito sofridos.

Mas é exatamente aí que está
o encanto da minha idade.
Conheci de tudo um pouco, das lágrimas aos sorrisos
e ambos me fizeram ser essa pessoa que sou hoje.

Ficaram as rugas no rosto e na alma,
mas também ficaram sorrisos em ambos.

Minhas rugas mais bonitas
são aquelas marcas de expressão
que eu adquiri por tanto sorrir,
muitas vezes, quando o coração chorava.

Um comentário:

Ocenilda disse...

Amiga, assim somos nos, com as nossas marcas deixadas pelo tempo e nao adianta nada tentar escondê-las, disfarça-las, porque o relogio do tempo esta la nos mostrando e o espelho também. A melhor maneira de nao as sentir com muita profundidade é manter o espirito jovem e nao o deixar envelhecer também como as marcas do tempo. E disso você tem muito bem guardadinho o segredo, né?

Beijos no seu coraçao.

Ocenilda